May 23, 2015

mecanismos idiotas

Idiota, não sais de mim nem há força! Não há um único dia que não me invadas o pensamento.
Ontem há noite reparei que continuo a meter o lençol por cima da orelha, como tu fazias por mim. De manhã ao fazer a cama dei por mim a meter a almofada fofa do teu lado e a dura do meu. Como se ainda te fosses deitar ali ao meu lado, na noite seguinte. É mecânico, agir como se a tua presença estivesse assídua nos meus dias. Tu também eras uma espécie de mecânico aprendiz, sempre há volta dos carros e das motas, coberto de óleo e com aquele cheiro a mecânico barato. -eu amava aquele cheiro de mecânico barato, confesso.- Hoje em dia tenho de abrir a despensa, atolada de ferramentas tuas para sentir aquele cheiro, que não é exactamente a mesma coisa, mas ajuda a enganar a saudade de ti. E nesta casa torna-se tão difícil não pensar em ti. Éramos um casal um tanto ou quanto ninfo e não há canto desta casa que não tenha historias dos nossos corpos suados para contar. E apesar das mudanças, continuo a ver tudo como quando vinha aqui em miúda ter contigo para dormir em conchinha. Ou quando acordava-te a meio da noite assustada e ias buscar-me, para aqui, o nosso ninho, o refugio. (...) Escrevo-te muitas vezes, mas não te quero de volta.




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"Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras." (William Shakespeare)